As considerações de Hyldon acerca do racismo, seus novos projetos e o êxito de “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”
Artista lança comemorações pelos 50 anos de seu álbum icônico: “A gravadora não queria que eu estourasse”.

Hyldon e a História de “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”
A canção “Na Rua, na Chuva, na Fazenda” surgiu a partir de uma experiência genuína. No Bahia, onde sua mãe residia, Hyldon havia estabelecido contato com uma mulher de Minas Gerais, trocando mensagens e telefonemas. Posteriormente, durante um Carnaval chuvoso na região litorânea capixaba, ele observava uma cabana de palha, com a lembrança da moça. Ao retornar ao Rio de Janeiro, escreveu: “Não estou disposto/ A esquecer seu rosto de vez/ E acredito que é tão comum⦔.
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“A gravadora não desejava que eu fizesse sucesso”, declarou Hyldon à CartaCapital, em relação a essa música, que era a faixa-título de um álbum de 1975. Ele acredita que a avaliação da empresa fonográfica era que seu trabalho não teria grande repercussão.
Completou 50 anos de carreira, tendo produzido com sucesso álbuns de artistas como Odair José e Jorge Mautner, na mesma gravadora que publicou seu próprio trabalho.
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Hyldon começou sua trajetória com apresentações em bailes. Posteriormente, desempenhou guitarra no The Fevers e acompanhou artistas como Tim Maia, que se tornou seu amigo. “Eles começaram a me dizer que eu tinha de gravar. Levei cinco, seis anos.”
“Na Rua, na Chuva, na Fazenda” se consagrou como um dos álbuns mais relevantes da década de 1970. Diversas de suas músicas também ganharam destaque, como “Na Sombra de uma Árvore” e “As Dores do Mundo”. O trabalho incorpora elementos da música romântica, da música nordestina e do samba, com influências do soul, que estava em ascensão no Brasil.
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Lembrando: “Foi um disco de orquestra, que gravou muita gente. Eu também fui influenciado por alguns discos, como “What’s Going On”, de Marvin Gaye, e “Wings”, de Michel Colombier”. “Quando fui gravar, já estava preparado. O disco atravessou gerações. Para mim, isso é o mais importante de tudo.”
O artista vocalista e letrista faz parte do movimento da música negra brasileira, que também contava com Cassiano, Gerson King Combo, Carlos Dafé, Tony Tornado e Trio Mocotó, entre outros.
Tim Maia e Jorge Ben Jor também participaram do movimento, ainda que suas trajetórias tenham seguido caminhos distintos em fases posteriores. Para Hyldon, a exclusão da história da música negra no Brasil se deve à ausência de formação no grupo do qual fazia parte.
Os grupos de Minas (Clube da Esquina), o MAU (Movimento Artístico Universitário), o pessoal do Ceará, todos tinham faculdade. Nós, não. Nós não tínhamos empresário.
Houve também o racismo. Nós construímos isso no rádio, onde não se visualiza, onde só se ouve a voz. Existia o racismo estrutural. Eu convivi com isso em ambos os lados. Acreditava que agradava a todos. “Conseguimos uma abertura para entrar no mercado, através dos bailes black. Não havia música brasileira sendo tocada. Fomos os primeiros a colocar a música em português para que as pessoas pudessem cantar.”
O documentário “As Dores do Mundo”, de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues, recentemente lançado, narra a história do álbum de 1975.
Hyldon participará de um debate sobre o documentário, com a presença de Domingos, em 21 de setembro às 11h, na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo. No mesmo dia, às 16h, ocorrerá a exibição do filme no Cine Olido, também na região central.
Em 2023, a Hyldon lançou o álbum JID023, o 14º de sua trajetória, e em breve será disponibilizado um álbum ao vivo em plataformas de música.
Acompanhe a entrevista.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Júlia Mendes
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.