Após um mês de monitoramento com câmeras em motocicletas, apenas duas pessoas foram flagradas em situação de abordagem em SP

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU), um mês após a instalação de 100 câmeras do programa Smart Sampa em motos da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar (PM), apenas duas pessoas foram presas em flagrante por placas adulteradas. Esse número contrasta com os 10.901 registros de placas falsas na cidade entre julho e agosto deste ano, principal alvo da implantação.

Desde o lançamento da tecnologia de Reconhecimento Óptico de Caracteres (OCR) pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 11 de agosto, 52 motocicletas foram apreendidas, “inclusive por meio das câmeras com tecnologia OCR embarcada”. A pasta não esclarece se todas as apreensões contaram com a ferramenta de inteligência artificial.

Apesar das controvérsias sobre o uso da tecnologia, a implementação foi justificada pelo baixo índice (0,14%) de apreensão de veículos com placas adulteradas, mesmo com a alta circulação. Especialistas defendem que o número insignificante de apreensões reflete a baixa eficiência da OCR em motocicletas.

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As câmeras em motocicletas estão conectadas a uma central de monitoramento e, ao cruzar as imagens captadas com o banco de dados da Justiça, os agentes recebem alertas para abordagens. O atraso entre a captura e o alerta para veículos em movimento na cidade é criticado.

O baixo volume de apenas duas prisões em flagrante, próximo ao total de apreensões, demonstra que a tecnologia é majoritariamente utilizada para uma gestão punitivista com baixo impacto na segurança real, mas alto impacto na vida de pessoas pobres que dependem da moto para trabalhar, afirma Thallita Lima, coordenadora de pesquisa do Panóptico, vinculado ao Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).

A detenção de motoristas por posse de placas adulteradas – “BRA49CC” – ocorreu nos dias 1º e 8 deste mês, sendo identificada mais de 9 mil vezes.

A especialista ressalta a questão da privacidade de dados e da vigilância do Estado. O sistema processa e armazena dados de localização, horário e trajeto de centenas de milhares de cidadãos comuns durante o monitoramento – que ela denomina dataveillance, ou seja, vigilância por dados. “A escala da vigilância é desproporcional: milhares têm sua privacidade violada para cada veículo eventualmente identificado”, afirma Thalita.

A CNN contatou a Secretaria de Segurança Pública (SSP), que preferiu que a prefeitura se manifestasse. Em comunicado, o órgão municipal reforçou que o sistema está em fase inicial de operação e já apresenta resultados concretos, fortalecendo a atuação da GCM na prevenção e no combate ao crime.

Placas de trânsito falsificadas apreendidas em São Paulo.

A investigação da Polícia Civil aponta que as placas podem ser obtidas na internet por valores entre R$ 20 e R$ 30, com a instalação considerada “simples”, já que o Ministério dos Transportes removeu a obrigatoriedade do lacre metálico nas placas de veículos. O lacre, que fixa a placa ao veículo, funciona como um mecanismo de segurança para garantir sua autenticidade e dificultar remoções ou trocas não autorizadas.

Em fevereiro deste ano, dez placas adulteradas foram apreendidas na residência de Suedna Carneiro, apelidada de “Mainha do crime”, que está detida por sua ligação com o crime pela morte de um delegado e ciclista em São Paulo, em frente ao Parque do Povo. Os indivíduos utilizavam placas falsas para evitar a identificação policial e, assim, cometeram os delitos.

Fonte por: CNN Brasil