Após o convite para “tomar bolo” de Trump no G7, o primeiro-ministro da Austrália realiza viagem de seis dias à China

Em maio deste ano, Anthony Albanese realizou uma viagem de 6 dias à China, reiterando a relevância do relacionamento com o país asiático.

17/07/2025 19:18

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Após o convite para “tomar bolo” de Trump no G7, o primeiro-ministro da Austrália realiza viagem de seis dias à China
(Imagem de reprodução da internet).

O primeiro-ministro australiano Anthony Albanese concluiu nesta quinta-feira (17) uma viagem oficial de seis dias à China, principal parceiro comercial do país da Oceania.

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Albanese, que foi reeleito como premiê em 3 de maio deste ano, se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping antes de encontrar Donald Trump, líder do seu aliado mais próximo, os Estados Unidos.

Albanese esperava encontrar-se com Trump há um mês, durante a 51ª Reunião de Cúpula do G7 no Canadá, porém, o presidente americano tomou um pedaço de bolo e decidiu partir antes do término da cúpula.

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A decisão do líder australiano pode ser justificada pelo fato de que a China é, de longe, o principal parceiro comercial da Austrália, respondendo por 25,7% do total da sua balança comercial. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição, com 9,9%. Os dados são do Departamento de Relações Exteriores e Comércio do governo australiano e referem-se ao ano fiscal 2023-2024.

Em relação às exportações, a diferença é ainda maior: a China compra 32,2% do que a Austrália vende, e os EUA, 12,2%.

Alguns veículos de comunicação australianos apresentaram duas principais dúvidas: a respeito dos resultados práticos da viagem e em relação aos seis acordos firmados, incluindo a revisão do Acordo de Livre Comércio China-Austrália para 2025-2026 e diversos acordos fitossanitários.

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Além de se reunir por uma hora com o presidente Xi Jinping, e seguindo o protocolo da visita de Estado na China, Albanese também se encontrou com o presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo (CNP), Zhao Leji, e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang. Ele visitou Xangai, Pequim e Chengdu.

A oposição australiana buscava uma postura mais assertiva de Albanese em relação às questões do Mar do Sul da China. Em fevereiro, uma força naval do Exército de Libertação Popular conduziu exercícios em águas internacionais próximas à Austrália. O governo australiano admitiu que as ações estavam em linha com o direito internacional, mas solicitou que fossem precedidas de comunicação prévia.

Este foi a segunda viagem oficial de Estado à China. Quando ele visitou o gigante asiático pela primeira vez, em 2023, havia sete anos que um primeiro-ministro australiano não realizava uma visita.

As relações sino-australianas atingiram o ponto mais elevado de tensão em sua história, durante os governos de Malcolm Turnbull e Scott Morrison, ambos do Partido Liberal.

O veto à Huawei em 2018 representou uma das ações que agravou o declínio das relações. Em 2019, Morrison levantou dúvidas sobre o estatuto de “país em desenvolvimento” da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A Austrália solicitou uma investigação contra a China sobre a origem da Covid-19. Em seguida, a China adotou uma série de medidas, incluindo a suspensão de importações e a imposição de tarifas sobre produtos como vinho, cevada e carne bovina.

Quando Albanese, do Partido Trabalhista, venceu as eleições pela primeira vez em 2022, a normalização das relações com a China era uma demanda crescente do setor empresarial australiano, em certos casos significativamente dependente do mercado chinês.

Após sua vitória, as disputas na OMC e as restrições comerciais foram se flexibilizando gradualmente.

Enquanto Albanese planejava sua viagem a Pequim, Trump enviava cartas para impor tarifas a diversos países, inclusive aliados. A Austrália foi um dos aliados que não obteve isenções do governo americano, ainda que a alíquota padrão de 10% tenha sido mantida.

No final do mês passado, o primeiro-ministro australiano manifestou insatisfação com a taxa, que, segundo ele, deveria ser “zero”.

A recente pesquisa do Pew Research indica que a diferença entre o número de pessoas que avaliam positivamente a China e os Estados Unidos está diminuindo.

Na Austrália, a situação se inverteu. O relatório indicou que, em 2021, 52% dos adultos consideravam mais relevante possuir relações econômicas próximas com os Estados Unidos, enquanto 39% priorizavam laços estreitos com a China.

Em uma pesquisa recente, 42% dos australianos expressaram apoio aos Estados Unidos e 53% consideraram maior relevância o relacionamento com a China.

Os Estados Unidos, com o apoio de países como Austrália, Japão, Filipinas e Taiwan, promovem a venda de armas e equipamentos militares, assessoria em conflitos e exercícios militares conjuntos no Mar do Sul da China.

A Austrália, em consonância com essa estratégia, fortaleceu-se ainda mais sob o governo Obama através do Giro para a Ásia (Pivot to Asia), participando de iniciativas como o Quad, os Cinco Olhos e, mais recentemente, o Aukus.

O Quadrilátero de Segurança envolve a colaboração entre Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos. Iniciou-se como uma coordenação de assistência humanitária após o terremoto e tsunami no Oceano Índico em 2004, sendo formalizado em 2007, porém, não operou efetivamente até 2017, já sob o primeiro governo Trump. A partir daí, passou por um processo de militarização progressiva.

Os Cinco Olhos foi uma aliança mais antiga, da Segunda Guerra Mundial, envolvendo Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, focada em inteligência.

A aliança também foi redirecionada nos últimos anos com o objetivo de conter a China. Em 2020, Trump, em seu primeiro mandato, pressionou o Reino Unido para que não permitisse a instalação da chinesa Huawei no país e o desenvolvimento de redes 5G.

A alegação era que, devido à participação do Reino Unido no grupo Cinco Olhos, a Huawei poderia realizar espionagem e roubar informações relacionadas a essa aliança. O Reino Unido inicialmente resistiu, mas acabou proibindo a Huawei no país.

Recentemente, o Aukus foi um acordo entre Estados Unidos e Reino Unido para a venda de submarinos nucleares à Austrália, levando a Austrália a cancelar também os contratos que já havia assinado com a França, que por sua vez considerou o acordo como um “ato de traição”. Atualmente, o governo Trump está reavaliando o Aukus.

Fonte por: Brasil de Fato

Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.