Antes de Harry Styles, Kurt Cobain desconsiderava a masculinidade tóxica

Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, apareceu na capa da revista The Face em 1993, vestindo um vestido florido.

29/06/2025 7:03

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(Imagem de reprodução da internet).

Antes de Harry Styles gerar impacto ao usar um vestido Gucci na capa da Vogue em 2022, outro ícone da música e do estilo já desafiava as normas binárias da moda.

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Em 1993, Kurt Cobain, do Nirvana, apareceu na capa da revista The Face vestindo um vestido floral azul. Com delineador preto escorrido e cabelo loiro despenteado parcialmente fechando um olho, Cobain direcionava o olhar de forma descontraída para o leitor, ao lado da manchete: “Nirvana: No tribunal do rei Kurt”.

A moda grunge valorizava o dia a dia, refletindo a angústia e o descontentamento da Geração X, em oposição aos cabelos elaborados, cores vibrantes e spandex que eram populares no glam metal dos anos 1980. Em vez disso, o grunge era simples e desleixado. Os artistas usavam cabelos soltos e sem arrume, realizando performances com camisetas, calças jeans rasgadas e suéteres confortáveis que os seguidores podiam encontrar em lojas de segunda mão. Ao disfarçar as formas corporais, o estilo possibilitava uma expressão mais neutra em termos de gênero.

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A subcultura também era anti-passarela, um sentimento que coincidiu com a coleção de primavera-verão de 1993 de Marc Jacobs, inspirada no grunge, para a Perry Ellis. A marca enviou amostras para Cobain e sua parceira Courtney Love. Contudo, a estética casual e de brechó, comercializada como alta costura, não foi bem recebida pela vocalista do Hole e rainha do grunge rock, conforme divulgado pela WWD.

“Você sabe o que fizemos com isso?”, disse Love em uma entrevista de 2010. “Nós queimamos tudo. Éramos punks – não gostávamos dessa coisa.”

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Quando os integrantes do Nirvana empregavam maquiagem, vestidos, saias ou tiaras, eles desafiavam uma cultura e uma cena musical que estabelecia uma imagem rígida de masculinidade. Um caso notório foi a sessão de fotos para a Mademoiselle Magazine em 1993, com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl, utilizando suéteres coloridos e tranças como saias.

Declarar que usar um vestido demonstra que posso ser tão feminina quanto desejo. Eu sou heterossexual… e aí? Mas se eu fosse homossexual, também não importaria, disse Cobain ao LA Times naquele ano.

Ele representou a última etapa de uma geração de ícones do rock ‘n’ roll que abriram caminho para outros explorarem e se manifestassem com maior liberdade. Considere o figurino marcante de Freddie Mercury, vocalista do Queen – minissaia, saltos, peruca e bigode – no videoclipe “I Want to Break Free”. David Bowie também combinou elementos da moda de gênero com sua maquiagem extravagante e estilo andrógino.

Kurt Cobain frequentemente expressava sua oposição ao sexismo na música rock e se manifestava contra a discriminação, mesmo correndo o risco de alienar sua própria base de fãs. As informações do encarte do álbum de compilação do Nirvana de 1993 continham uma declaração sobre a importância de desafiar as normas de gênero na moda.

“A paleta da nossa cultura para a masculinidade e o corpo masculino cisgênero ainda é muito limitada e restritiva — e o exemplo de Cobain permitiu que outros artistas masculinos encontrassem e encenassem sua própria expressão autêntica”, acrescentou Jacki Willson, professora associada de performance e gênero na Universidade de Leeds, na CNN.

“A paleta da nossa cultura para a masculinidade e o corpo masculino cisgênero ainda é muito limitada e restritiva — e o exemplo de Cobain permitiu que outros artistas masculinos encontrassem e encenassem sua própria expressão autêntica”, acrescentou Willson.

A discussão sobre a moda e a identidade de Cobain frequentemente ocorre na internet, contudo, é importante lembrar que a ligação da moda com o gênero binário era justamente a construção que ele contestava.

Cobain explorou a moda, demonstrando que a vestimenta não possui gênero, que um homem pode usar um vestido sem que isso reflita algo sobre sua sexualidade. O vestido azul com colarinho que ele utilizou na capa da The Face era bastante conservador. Parecia de segunda mão e era um pouco desleixado. Cobain o usava de maneira casual, sem chamar atenção. É uma afirmação porque não é. Declara: qualquer um pode usar qualquer coisa.

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Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.