Angela Ro Ro, de forma audaciosa e intensa, enfrentou as consequências de sua vida sem máscaras
Sua atuação no cenário público se caracterizou por comentários contundentes e uma sinceridade que a projetaram como uma das mais controversas figuras da…

Um tom áspero dificilmente alcançaria sucesso em canções de amor. No entanto, Angela Ro Ro usou dessa aparente contradição como sua marca: transformou o tom rouco e grave em instrumento de visceralidade, emoção e autenticidade.
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A artista faleceu na segunda-feira, dia 8, aos 75 anos, no Rio de Janeiro. Estava hospitalizada desde junho devido a uma infecção pulmonar.
Angela Ro Ro se destacou como artista de grande intensidade, transitando entre o samba e o rock, sempre com forte carga dramática em suas interpretações. Seu álbum de estreia, lançado em 1979, a consolidou como uma figura marcante da música brasileira, com canções como “Amor, Meu Grande Amor” (em parceria com Ana Terra) e composições originais de grande impacto, incluindo “Não Há Cabeça” e “Agito e Uso”.
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Em seu álbum seguinte, SÓ Nós Resta Viver (1980), a faixa-título se tornou um grande sucesso. Em Escândalo (1981), Angela recebeu de Caetano Veloso uma canção personalizada para o seu período de vida – marcado pela conturbada separação da cantora Zizi Possi.
O quinto disco, A Vida É Mesmo Assim (1984), é lembrado como um dos ápices de sua força artística.
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Nas décadas de 1980 e início de 1990, Angela Ro Ro apresentou-se em diversas apresentações. Sua performance incluía canções de cunho romântico, blues, jazz e composições com caráter autobiográfico. Em Gota de Sangue (1979), ela declarava sua homossexualidade durante a ditadura, e em Meu Mal É a Birita (1980), abordava sua relação com álcool e drogas de forma direta.
Posteriormente, optou pela discrição. O álbum Acertei no Milênio (2000) representou essa mudança. Contudo, sua trajetória lançamentista seguiu marcada por comentários controversos, afirmações mordazes e uma sinceridade que o estabeleceram como parte da tradição das “mal-afortunadas” da música brasileira.
Seu último trabalho de estudo, Selvagem (2017), demonstrou que o vigor criativo permanecia vivo. Contudo, em um cenário onde a sobrevivência artística depende primordialmente de apresentações ao vivo, ela passou a enfrentar problemas financeiros, chegando a solicitar auxílio nas redes sociais.
Angela Ro Ro, de forma audaciosa, talentosa e intensa, trilhou um caminho que reflete as dificuldades de indivíduos que desafiam padrões. Sua trajetória, repleta de paixão e conflitos, justificaria a produção de um livro e um filme.
Fonte por: Carta Capital
Autor(a):
Sofia Martins
Com uma carreira que começou como stylist, Sofia Martins traz uma perspectiva única para a cobertura de moda. Seus textos combinam análise de tendências, dicas práticas e reflexões sobre a relação entre estilo e sociedade contemporânea.