Tensões entre o governo Lula e o Congresso Brasileiro

As tensões entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso Nacional, já visíveis no final de 2025, devem se intensificar em 2026, ano eleitoral. Contudo, segundo o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), o conflito pode, na verdade, beneficiar Lula perante a opinião pública.

“Quanto mais o Congresso agir contra Lula, mais forte ele se torna na opinião pública”, afirmou Ramirez em entrevista à Rádio BdF. Ele argumenta que, apesar de Lula enfrentar uma sólida maioria conservadora no legislativo, o cenário político para 2026 continua favorável. “Não há outro candidato de esquerda ou progressista tão forte quanto Lula”, acrescentou.

Estratégia do PT e descontentamento popular

Ramirez acredita que o Partido dos Trabalhadores (PT) deve aproveitar o crescente descontentamento com os legisladores de extrema direita e usar o Congresso como um palco político. “O objetivo do partido é apresentar propostas incômodas para a direita. Quando o PT lança uma agenda, pode perder a votação na Câmara, o que é esperado, mas ganha na opinião pública”, explicou.

O cientista político também criticou a decisão do Conselho de Ética de arquivar os processos de impeachment contra o deputado Eduardo Bolsonaro, chamando-a de “absurda”. Ele acrescentou: “Quanto mais a Câmara tenta protegê-lo, mais mancha sua imagem perante o público.”

Realinhamento político e desafios futuros

Ramirez ainda destacou a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria Geral da Presidência como um indicativo de realinhamento político. “A nomeação de Boulos reforça os laços de Lula com os movimentos sociais e prepara o terreno para 2030”, disse. Segundo o professor, Lula está em um momento em que “não tem nada a perder” e pode optar por enfatizar políticas mais à esquerda.

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Apesar da popularidade sustentada de Lula, Ramirez alertou que o presidente ainda enfrenta sérios desafios no Congresso. “Lula tem dificuldades significativas na Câmara dos Deputados. Isso precisa ser revertido, e o PT deve estar muito atento a isso. As eleições congressuais do próximo ano serão uma das mais decisivas desde o retorno da democracia no Brasil”, concluiu.