Análise: Declaração de Trump sobre armas interrompe a guerra na Ucrânia

O Kremlin fornece fortes sinais à Casa Branca de que não demonstra interesse em uma solução realista e negociada para o conflito.

09/07/2025 4:05

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Análise: Declaração de Trump sobre armas interrompe a guerra na Ucrânia
(Imagem de reprodução da internet).

Em 48 horas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode ter feito suas declarações mais fortes até então sobre o armamento da Ucrânia.

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Ademais, no mesmo período, o Kremlin transmitiu à Casa Branca a informação mais enfática de que não demonstra interesse em uma solução realista e negociada para o conflito.

Inicialmente, com os comentários de Trump sobre o armamento da Ucrânia, um retorno a um pilar fundamental da política externa dos EUA há décadas – a oposição à agressão russa. “Vamos enviar mais armas”, declarou o presidente na segunda-feira (7).

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É necessário que façam isso, eles precisam estar preparados para se defender. Estão sofrendo ataques intensos.

Por trás dele, o Secretário de Defesa, Pete Hegseth, concordou, mesmo com essa inconsistência com o anúncio do governo dias antes sobre a suspensão dos equipamentos militares. O que Trump realmente pretendia? Ele não forneceu muitas informações.

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Defesa aérea conjunta

Um porta-voz do Pentágono afirmou posteriormente que, sob a liderança do presidente Trump, o Departamento de Defesa está enviando armamentos defensivos adicionais para a Ucrânia.

A finalidade, conforme declarado pelo Departamento de Defesa, é assegurar que os ucranianos tenham capacidade de defesa, ao mesmo tempo em que prosseguem os esforços para alcançar uma paz duradoura no leste europeu.

A mudança de cenário aconteceu alguns dias após a reunião de Volodymyr Zelensky com Trump na última sexta-feira (4), na qual o líder ucraniano afirmou que os dois chefes de Estado discutiram a produção conjunta de armas e sistemas de defesa aérea.

Zelensky necessita com urgência de mais mísseis interceptores Patriot, que representam a única forma de neutralizar mísseis balísticos russos, e cuja venda pode ser autorizada exclusivamente pelos Estados Unidos.

Trump conversou um dia antes com o chanceler alemão Friedrich Merz, que se propôs a adquirir os Patriots dos EUA para entregar à Ucrânia. Havia bastante coisa acontecendo para levar Zelensky a declarar no sábado que sua ligação com o líder americano foi “a melhor conversa que tivemos durante todo esse tempo, a mais produtiva”.

Relações entre os Estados Unidos e a Rússia.

A falta de Trump em detalhar o assunto pode ser uma estratégia ou consequência de sua falta de interesse por eles. No entanto, apesar de soar de maneira semelhante ao seu predecessor, Joe Biden, em relação ao armamento da Ucrânia, existe uma diferença notável.

Biden divulgou publicamente, em detalhes exaustivos, todas as capacidades que forneceu a Kiev, possivelmente na expectativa de que a transparência impedisse uma escalada súbita e inesperada com Moscou.

Biden, por sua vez, promoveu um debate público tenso com Kiev acerca de cada novo sistema e envio de armamentos, no qual todas as exigências aparentemente inviáveis – como foguetes HIMARS, tanques, caças F-16 e ataques dentro da Rússia por ATACMs – foram, por fim, contempladas.

A escalada americana em estilo claro e aberto foi revelada ao Kremlin.

A Rússia não desiste de seus objetivos na Ucrânia.

Entretanto, após seis meses explorando conceitos de diplomacia, o Kremlin também retornou ao ponto de partida: disposto a aceitar a paz somente se for uma rendição com outro nome.

Sua meta mais recente foi atingida: adulou a convicção da Casa Branca de que poderia negociar o término do conflito e permitiu que o tempo necessário para que a ofensiva de verão da Rússia estivesse agora devidamente preparada, e o terreno sob essas tropas estivesse consolidado.

Na segunda-feira (7), o principal diplomata de Putin reiterava o conjunto de exigências mais extremas da Rússia.

Sergi Lavrov declarou a um jornal húngaro que os “fatores fundamentais” do conflito devem ser removidos, apresentando uma extensa e inatingível lista de exigências, que compreendiam a “desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, o fim das sanções contra a Rússia, a anulação de todos os processos judiciais envolvendo a Rússia e a restituição dos bens de origem ocidental que foram ilegalmente confiscados”.

Ele complementou com a necessidade de que a Ucrânia renunciasse a qualquer adesão à OTAN e também que o território ucraniano ocupado fosse considerado russo, abrangendo áreas de Zaporizhzhia e Kherson que Moscou ainda não havia incorporado.

Aquele foi um reflexo intenso das demandas da Rússia ao se envolver em diplomacia pela primeira vez, nas primeiras semanas da guerra, quando seus soldados assassinaram civis a tiros nos subúrbios de Kiev.

A literatura russa

A justificativa de Putin para recusar a diplomacia genuína é direta. Ele apresentou essa guerra (de forma enganosa) como um confronto existencial entre a Rússia e seus valores tradicionais, contra uma OTAN liberal, expansionista e agressiva.

Representa um instante dual na história russa, insiste sua narrativa. Avaliar um armistício breve, embora ilusório, contraria a necessidade dessa falsa história e arriscaria enfraquecer o moral precário de suas tropas, cujos destinos seus líderes frequentemente desperdiçam em ofensivas frontais violentas.

Putin pode conciliar Trump com discursos sobre seu anseio por paz. Contudo, ele não pode abandonar a imagem de que o país está sob ataque.

O retorno ao normal tem sido mais breve e simples do que o de Trump. Contudo, o Kremlin continua a identificar o inimigo onde ele sempre esteve, e onde sempre necessita estar, para que sua guerra de escolha continue a ceifar a vida de muitos russos em idade precoce.

Assim, Putin e Trump retomaram a situação em que a Rússia e os EUA se encontravam em 2022.

Moscou estaria mobilizando diversos milhares de soldados suplementares para uma nova invasão da Ucrânia. A diplomacia se mostra ineficaz. Washington deve auxiliar na defesa da Ucrânia ou correr o risco de um constrangimento internacional – o término de sua hegemonia militar. E a Ucrânia permanece ali, no centro, observando as duas potências, de ambos os lados, hesitantes e em rotação, mas ainda assim, mantendo-se firme.

Fonte por: CNN Brasil

Ana Carolina é engenheira de software e jornalista especializada em tecnologia. Ela traduz conceitos complexos em conteúdos acessíveis e instigantes. Ana também cobre tendências em startups, inteligência artificial e segurança cibernética, unindo seu amor pela escrita e pelo mundo digital.