Conflito geopolítico entre China e Estados Unidos pela hegemonia da América Latina acompanha carta de Donald Trump com risco de imposição de tarifas ao …
A carta recente do Presidente dos Estados Unidos a Luiz Inácio Lula da Silva, emitida em 9 de julho de 2025, indica uma mudança estratégica significativa nas Américas, com relevantes consequências geopolíticas.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A carta anuncia uma taxa de 50% sobre as importações brasileiras a partir de 1º de agosto — a mais alta entre todos os parceiros comerciais dos EUA —; sua importância vai além da política comercial, refletindo uma disputa mais ampla por influência na América do Sul que exige atenção cuidadosa e consequente por parte das autoridades brasileiras.
As medidas comerciais da carta, ainda que relevantes, estão em consonância com ações semelhantes adotadas pelos EUA contra outros países e são tecnicamente passíveis de negociação e revogação. O argumento relacionado ao comércio não se mantém, considerando que o Brasil é uma economia aberta, com a qual os EUA apresentam grandes superávits comerciais de bens e serviços, na ordem de meio trilhão de dólares nos últimos 15 anos, no mínimo.
A base das tarifas está ligada a justificativas políticas, relacionadas aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem os EUA apoiam. Isso coloca o Brasil como o único país alvo de penalidades comerciais fundamentadas em disputas internas, e não em desequilíbrios econômicos.
Os Estados Unidos alegam tratamento injusto a Bolsonaro, manobras eleitorais supostamente antidemocráticas e restrições a plataformas de redes sociais sediadas nos EUA no Brasil — motivações que se distanciam dos argumentos econômicos habituais e ressaltam uma dimensão politizada na relação EUA-Brasil.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Além do contexto político imediato, a carta reflete uma disputa geopolítica mais profunda no Hemisfério, que é a razão fundamental da ação do governo americano. A América do Sul Meridional, em particular o Cone Sul — incluindo Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia — permanece uma arena crítica onde a influência global ainda está em disputa. Esta região tem acesso estratégico a três oceanos — Atlântico, Pacífico e Antártico — e controla rotas logísticas vitais e espaço aéreo e orbital relevante para o trânsito de satélites e outros artefatos. Também possui vastas reservas de recursos naturais, renováveis e não renováveis, tornando-se um prêmio para qualquer potência global que busque segurança e influência a longo prazo.
A influência histórica da China na Argentina se confronta agora com um desafio, à medida que as autoridades dos EUA e argentinas intensificam a cooperação em defesa e comércio, o que pode conceder ao país vizinho acesso quase ilimitado de tarifas ao mercado americano. Essa situação ameaça enfraquecer a integração comercial do Mercosul, sobretudo considerando que o Brasil mantém uma aliança mais próxima com a China, tanto em nível bilateral quanto por meio do BRICS, que questiona de forma evidente a hegemonia de Washington.
O Brasil se encontra em um momento crucial. A situação em curso não se limita a tarifas comerciais ou reclamações políticas isoladas; trata-se do alinhamento estratégico de um ator-chave do hemisfério ocidental diante da intensificação da rivalidade entre EUA e China. O bem-estar da população brasileira e a proteção dos valores constitucionais estão em jogo. O país deve lidar com essas pressões com uma compreensão clara de que se trata de uma disputa por influência e hegemonia na América do Sul. A mensagem é inequívoca: trata-se de geopolítica, não apenas de economia ou política doméstica. As decisões do Brasil nos próximos meses terão repercussões por décadas.
Em síntese, a carta dos EUA ao Brasil é um presságio de um realinhamento estratégico nas Américas. A liderança brasileira deve responder com prudência e determinação, reconhecendo que cada declaração e ação será cuidadosamente avaliada na disputa por influência regional e global. O que está em jogo é nada menos do que o futuro do cenário geopolítico da América do Sul.
O Brasil enfrentará desafios significativos. O bem-estar da população e os valores e princípios da Constituição estarão em risco. Não se trata de Bolsonaro ou de censura online; e muito menos de questões comerciais. O problema reside na China e na forma de lidar com ela, na área de influência dos Estados Unidos.
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.