Alta taxa de juros provoca férias coletivas e demissões no setor de madeira
Pelo menos 1.400 funcionários estão em férias coletivas e 100 foram desligados desde julho.

A imposição de tarifas de 50% nas exportações brasileiras, iniciada em agosto pelos Estados Unidos, já começa a impactar os trabalhadores do setor de madeira processada do país.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O segmento integra o grupo que não obteve inclusão na lista de 694 produtos isentos ao aumento da taxa, que teve início há cerca de duas semanas. Contudo, os impactos são sentidos desde o começo de abril, quando a taxa de 10% entrou em vigor.
A partir desse instante, o setor iniciou a adequação de questões de execução e despesas internas. Nesse contexto, a estratégia de períodos sabáticos em grupo já havia sido implementada por diversas empresas que dependem do mercado americano”, explica Paulo Roberto Pupo, superintendente da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), à CNN.
Leia também:

O setor imobiliário nos EUA expande-se 57% nos últimos cinco anos, acompanhado de aumento nos preços das casas

Brasil disponibiliza o mercado para produtos do setor agropecuário na Argentina e no Paraguai

O relator da LDO afirma não ter tempo hábil para examinar as 2.400 emendas propostas ao texto
A Millpar, que ocupa a segunda maior posição no setor no país e a terceira na América Latina, anunciou em julho que determinadas áreas da unidade de Guarapuava (PR) entraram em recessão coletiva por 15 dias.
Um dia antes da implementação da tarifa, a empresa anunciou a suspensão completa de sua produção, colocando mais de 65% de seus funcionários (720 de 1.100) em férias por período indeterminado.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Temos informações de que muitas empresas estão finalizando esse período de férias coletivas. Se a situação continuar como está (e parece que sim), as empresas terão que fazer cortes para equilibrar as suas contas”, diz Pupo.
Quem sofre.
A indústria madeireira exportou 1,6 bilhão de dólares para os Estados Unidos em 2024, com cerca de 50% da produção nacional sendo direcionada para esse mercado.
A aplicação de taxas norte-americanas nas empresas madeireiras ameaça cerca de 180 mil empregos diretos no Brasil, segundo a associação. Em nota publicada em 18 de julho, a Abimci declarou que o setor estaria no “início de um colapso” devido à tarifação.
A maior parte dessa produção está concentrada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apenas no primeiro estado, onde ocorreram os maiores casos de férias e demissões, há 6.700 empresas em atividade e 109 mil empregos em risco.
A madeira é o principal produto de exportação do Paraná para os Estados Unidos.
“Contamos com uma tradição de madeira, com cadeias produtivas bem estabelecidas e interligadas com inúmeros outros setores”, explica Ailson Loper, diretor-executivo da Apre (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal).
Para cada tonelada de frango produzida no Paraná, são necessárias quatro toneladas de madeira. Assim, quando há um impacto em um setor, há um impacto em todos.
Apesar dos números relevantes, o setor madeireiro não é o único que não escapou das tarifas de Trump. Café, carnes, peixes, frutas e equipamentos de construção civil, por exemplo, também sofrem com a interrupção de exportações ao país, que representava uma fatia relevante da clientela de todos os setores citados.
Até o momento, férias coletivas e demissões não foram observadas na mesma magnitude.
De acordo com Pupo, essa situação se deve a uma característica específica do setor madeireiro: a personalização de parte da indústria exclusivamente para os Estados Unidos. Os contratos são firmados com grande detalhamento, o que dificulta a transição rápida para outros mercados.
A produção de molduras de madeira, ou mouldings em inglês, é direcionada principalmente para o mercado norte-americano, sem existência de demanda em outras partes do mundo.
“Nessas situações, não há outra solução além da paralisação das unidades fabris”, explica o especialista.
O setor madeireiro exportou 1,6 bilhão de dólares para os Estados Unidos em 2024, com cerca de 50% da produção nacional sendo direcionada para aquele mercado.
Seguimos em frente.
Além da ameaça tarifária, os Estados Unidos instauraram uma investigação comercial contra o Brasil, na qual apontam, entre suas preocupações, a madeira brasileira.
Os Estados Unidos, por meio do USTR, consideram que o país não está implementando de forma eficaz as leis e regulamentações voltadas a combater o desmatamento ilegal, o que afetaria a competitividade dos produtores americanos de madeira e produtos agrícolas.
No entanto, toda a produção exportada para os norte-americanos decorre do Sul do país, que corresponde a mais de 95% da produção nacional de madeira processada, conforme declarou Pupo, da Abimci.
A fotografia antiga da extração ilegal na Amazônia já consolidou-se há décadas como o principal polo produtivo nacional, com destaque para a região Sul. Destacam que atendem integralmente às exigências para atender o mercado americano, principalmente na construção civil.
Loper, da Apre, declara que ações judiciais já estão sendo implementadas nos Estados Unidos, com empresas locais contratando advogados para fortalecer a defesa do setor.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, na semana passada, a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para apoiar empresas impactadas pelas tarifas.
A proposta do governo representa um alívio, contudo, compreendemos que é uma solução temporária, auxiliando na questão do emprego, porém, não a resolve.
Enfrentamos uma situação de conflito. O que se deve realizar para uscir com segurança dela é a renegociação da taxa.
Ele estima que, até lá, milhares de empregos estarão ameaçados.
Analise a trajetória dos dólares coletados pelas taxas de Trump
Fonte por: CNN Brasil
Autor(a):
Júlia Mendes
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.