O agronegócio brasileiro, liderado por gigantes como JBS, enfrenta críticas por suas emissões e desmatamento, enquanto busca parcerias internacionais na COP28
Nas últimas décadas, o agronegócio se consolidou como o principal exportador de carnes e rações animais do Brasil. As maiores corporações de alimentos e agronegócios do mundo, incluindo a gigante JBS, obtiveram lucros significativos, enquanto o país se tornou conhecido pela destruição climática.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A combinação de desmatamento, grilagem de terras e pecuária contribuiu para isso.
Embora o setor represente três quartos das emissões de GEE do Brasil, ele está excluído da lei nacional de carbono. O agronegócio exerce forte influência sobre o estado brasileiro, independentemente de quem esteja no poder, seja Lula ou Bolsonaro.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Isso levanta preocupações sobre a possibilidade de um grande exercício de “greenwashing” no setor.
Um dos principais eventos será a “Agri Zone”, próxima às atividades oficiais da COP. Enquanto outros lutam por espaço na “Green Zone”, gigantes como Nestlé e PepsiCo terão um espaço exclusivo para impressionar os delegados da COP. Grupos de lobby da indústria, como CropLife e o Conselho de Exportação de Laticínios dos EUA, também estarão presentes.
O evento é organizado pela Embrapa, que já colabora com empresas para rebranding do agronegócio brasileiro, através de programas como “pecuária de baixo carbono” com a Nestlé. O ministério responsável pela agricultura familiar, que não implementa reforma agrária por falta de recursos, também é patrocinador.
O governo brasileiro anunciou um plano de parceria público-privada de US$ 100 bilhões para transformar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em monoculturas de soja e outros produtos de exportação. A proposta afirma que isso ajudará a recuperar o carbono no solo e permitirá que empresas compensem suas emissões de combustíveis fósseis.
O governo e o lobby do agronegócio têm buscado investidores estrangeiros para o projeto, chamado Caminho Verde Brasil. O fundo soberano da Arábia Saudita, que possui participação na Minerva, já demonstrou interesse, assim como o fundo Mubadala dos Emirados Árabes, que está plantando macaúba no Cerrado para produzir biocombustíveis.
O novo modelo proposto é uma continuação do antigo, incentivando a venda de terras desmatadas para a criação de fazendas intensivas. Isso pode resultar em mais desmatamento e uso intensivo de pesticidas, afetando a saúde pública. A produção será voltada para exportação, com lucros concentrados nas mãos de banqueiros e acionistas de multinacionais.
Se houver esperança de que a COP deste ano seja diferente, ela pode estar a poucos quilômetros da Agri Zone, na Cúpula do Povo, onde comunidades afetadas pelo agronegócio estão organizando seu próprio espaço. Organizações e movimentos sociais trabalharão juntos para construir sistemas alimentares que realmente respondam à emergência climática e outras crises ambientais e sociais.
Larissa Packer é especialista em tendências do agronegócio na América Latina, com foco em digitalização, reforma agrária e soberania alimentar. Ela representa a GRAIN na Alianza Biodiversidad, uma coalizão de organizações que lutam pela soberania alimentar na região.
Autor(a):
Com formação em Jornalismo e especialização em Saúde Pública, Lara Campos é a voz por trás de matérias que descomplicam temas médicos e promovem o bem-estar. Ela colabora com especialistas para garantir informações confiáveis e práticas para os leitores.