Alunos que residem em áreas controladas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresentam resultados escolares inferiores e taxas de abandono escolar mais elevadas, conforme um estudo recente publicado nesta quarta-feira (6).

A pesquisa, denominada “Educação Sob Cerco: efeitos da violência armada no aprendizado e evasão escolar nas escolas do Grande Rio”, foi conduzida pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), IFC (Instituto Fogo Cruzado), Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense) e Ceres-Iesp (Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social).

O estudo revela que, no Saeb, estudantes de áreas sob domínio de milícias ou do tráfico de drogas apresentaram resultados até 10 pontos inferiores em relação aos estudantes de regiões não dominadas — o que corresponde a aproximadamente seis meses de aprendizado.

Escolas situadas em regiões sem controle armado demonstraram melhor desempenho em Língua Portuguesa e Matemática, nas séries analisadas (5º e 9º ano do ensino fundamental). Nessas localidades, aproximadamente 19% dos estudantes apresentaram rendimento classificado como “abaixo do básico”. Já nas áreas sob domínio armado, esse percentual variou entre 22,6% e 38,7%, dependendo da região e do tipo de controle.

A permanência contínua com a violência armada também interfere na frequência escolar.

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Em 2022, a taxa média de evasão no terceiro ano do ensino médio foi de 7,2% nas escolas localizadas em áreas não dominadas. Nas regiões sob controle de grupos armados, esse índice variou entre 9% e 9,6%. Na capital, áreas sob domínio do tráfico apresentaram as maiores taxas, com evasão chegando a 12,5%.

O estudo relaciona a ocorrência de confrontos armados com a evasão escolar. Escolas localizadas em áreas com mais de três episódios de violência armada durante o ano apresentaram taxa média de evasão superior a 10%, enquanto escolas sem registros desse tipo de violência registraram índice de 7,7%. Em 2022, foram contabilizados 4.400 confrontos próximos a escolas na Região Metropolitana do Rio, sendo que 46% das unidades escolares tiveram pelo menos um episódio de violência aguda no entorno.

A violência armada representa mais do que um risco imediato: ela corrói as chances de desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes, aprofundando desigualdades estruturais. A normalização dessa convivência nociva com a violência armada pode ter efeitos permanentes no desempenho escolar, na saúde mental e nas perspectivas de futuro desses estudantes.

As instituições envolvidas no estudo recomendam a implementação de políticas públicas que assegurem caminhos seguros para estudantes e profissionais, a valorização das equipes escolares, a reposição de aulas para o cumprimento do calendário letivo e a integração entre os setores de educação, segurança, saúde e assistência social.

O relatório faz parte da série Educação Sob Cerco, com o objetivo de investigar os efeitos da violência armada, seja ela crônica ou aguda, sobre a educação pública na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A CNN contatou a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro para obter posicionamentos sobre a pesquisa e espera por uma resposta.

Fonte por: CNN Brasil