A usina de Fordow, localizada no Irã, foi construída em um local dentro de uma montanha

A maior parte do nosso conhecimento sobre o tema deriva de um conjunto de documentos iranianos que foram subtraídos há anos pela inteligência israelense.

18/06/2025 12:28

9 min de leitura

A usina de Fordow, localizada no Irã, foi construída em um local dentro de uma montanha
(Imagem de reprodução da internet).

Três túneis construídos em um conjunto de montanhas, uma extensa estrutura de suporte e uma vasta área de segurança: é tudo o que se observa da enigmática Usina de Enriquecimento de Combustível Fordow, no Irã, em imagens de satélite recentes.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A estrutura secreta e bem protegida erguida próximo à cidade sagrada de Qom tem gerado especulações acerca de sua natureza e dimensões desde que foi divulgada pela primeira vez em 2009.

A maior parte do nosso conhecimento sobre o tema deriva de um conjunto de documentos iranianos subtraídos há muitos anos pela inteligência israelense.

Leia também:

Acredita-se que seus principais túneis se encontrem entre 80 e 90 metros abaixo do solo, estando protegidos de qualquer ataque aéreo que Israel possua (até onde se sabe), o que torna a destruição da instalação pelo ar uma tarefa praticamente inviável.

Com a liderança do Irã em recuperação após uma série de ataques israelenses destrutivos, certos analistas sugerem que a conversão de estoques de urânio enriquecido em uma bomba nuclear pode ocorrer em Fordow.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Israel tem atacado a instalação nos últimos dias, porém, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), até o momento não está disposto – ou não é capaz – de danificá-la.

Teerã há muito tempo afirma que os objetivos de seu programa nuclear são pacíficos, mas Fordow está no centro das preocupações sobre as ambições do Irã.

O tamanho e a configuração desta instalação são inconsistentes com um programa pacífico, afirmou então o presidente dos EUA, Barack Obama, em 2009, quando, juntamente com o então presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, revelaram a existência de Fordow ao mundo.

A poucos dias do anúncio, os iranianos, aparentemente cientes de que agências ocidentais tinham conhecimento da instalação, comunicaram à agência nuclear da ONU o seu desejo de construir uma nova unidade de enriquecimento de combustível. Aquela altura, a construção em Fordow já estava em andamento há anos.

Teerã reagiu às acusações, porém a condenação até mesmo da aliada Rússia e as preocupações da China deixaram pouco espaço de manobra.

A construção da usina nuclear iniciou-se na década de 2000.

Os Estados Unidos e seus aliados não divulgaram muitos detalhes sobre o início da construção de Fordow, mas imagens de satélite públicas mostram trabalhos no local já em 2004, com fotografias revelando duas estruturas quadradas brancas onde as entradas dos túneis estão localizadas atualmente.

A Agência Internacional de Energia Atômica declara possuir imagens complementares que indicam que as obras estavam em andamento desde o ano de 2002.

“Fordow é, na verdade, um projeto que iniciou durante o que chamamos de programa nuclear de choque do início dos anos 2000”, declarou David Albright, diretor do Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS), com sede em Washington, D.C. – uma instituição apartidária dedicada a conter a disseminação de armas nucleares.

Eles pretendiam que os iranianos fabricassem urânio para fins bélicos naquela instalação e obtivessem urânio pouco enriquecido do programa nuclear iraniano.

Em 2009, a estrutura de suporte externa já estava completamente erguida e a escavação prosseguia para o que se presume ser um poço de ventilação, essencial para assegurar a circulação do ar no sistema.

Aquele poço foi, em seguida, ocultado e disfarçado, conforme evidenciado em fotografias mais recentes.

Teerã explicou à AIEA, em uma carta datada de outubro de 2009, que a decisão de construir a instalação subterrânea foi resultado de “ameaças de ataques militares contra o Irã”, acrescentando que Fordow serviria como contingência para a usina próxima de Natanz, que, segundo ela, “estava entre os alvos ameaçados com ataques militares”.

O Irã comunicou à AIEA que a instalação poderia acomodar até 3.000 centrífugas.

Acordo nuclear e acusações israelenses

Os riscos associados a Fordow foram significativamente reduzidos devido ao Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA), conhecido como “acordo nuclear com o Irã”, que obteve a remoção por parte do Irã de dois terços das centrífugas localizadas na instalação, juntamente com todo o material nuclear, e que proibiu a instalação de realizar atividades desse tipo.

A reversão desse processo ocorreu gradualmente após a saída do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, do acordo em 2018.

Os detalhes da instalação foram divulgados pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em 2018, após os serviços de inteligência do país apreenderem mais de 55 mil documentos que Israel descreveu como o “arquivo atômico” do Irã.

Entre os documentos estavam projetos detalhados da Fordow e informações sobre seus objetivos: a produção de urânio de grau militar, como parte do programa de armas nucleares do Irã, para pelo menos uma ou duas armas nucleares por ano.

“Nunca detectamos nenhuma inconsistência”, afirmou Albright, que examinou os documentos, em relação à iniciativa do Irã de desenvolver armas nucleares.

São dezenas de milhares de páginas. Isso não dá para inventar tanta coisa. Não acredito que alguém questione, e é provavelmente por isso que existe uma resolução do Conselho de Governadores (da AIEA) contra o Irã, completou.

Na época, o então vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, classificou as revelações e os comentários de Netanyahu como “infantis” e “riscados”.

O então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que os EUA tinham conhecimento do material “há algum tempo” e consideravam que os documentos eram autênticos.

A usina de Fordow possui proteção contra as maiores bombas.

Relatórios recentes da AIEA indicaram que o Irã elevou a produção de urânio enriquecido para 60% na instalação de Fordow, que, segundo especialistas e a AIEA, possui atualmente 2.700 centrífugas.

O aumento notável da produção e acúmulo de urânio altamente enriquecido pelo Irã, o único Estado sem armas nucleares que produz tal material nuclear, representa uma preocupação séria, afirmou a AIEA em um relatório de 31 de maio.

“Uma das coisas que aumentou a tensão foi que eles não tinham motivo para fazer isso, a não ser para poderem então dar o próximo passo e transformá-lo em urânio de grau militar”, disse Albright.

Isso foi entendido como se estivessem se preparando para realizar tal ação, caso optassem por fazê-lo. Acrescentou que, com 60%, seria possível transformá-lo em urânio para armas de forma rápida.

Segundo o think tank ISIS, o Irã pode transformar seu estoque de urânio enriquecido a 60% na Usina de Enriquecimento de Combustível de Fordow em 233 kg de urânio de grau militar, o que seria suficiente para nove armas nucleares, em três semanas.

Essa é, uma das principais alvos dos esforços israelenses para enfraquecer e desmantelar o programa nuclear iraniano. Contudo, será que isso é realmente possível?

Israel é o único país que detém o tipo de arma necessária para atacar a instalação nuclear de Fordow, no Irã, afirmou o embaixador de Israel nos EUA, Yechiel Leiter, em uma entrevista à Merit TV na segunda-feira (16).

Para que Fordow seja destruída por uma bomba lançada do ar, o único país que possui essa arma é os Estados Unidos. E essa é uma decisão que os Estados Unidos precisam tomar, independentemente de optarem ou não por esse caminho.

Contudo, ressaltou, não se tratava da única alternativa: “Existem outras formas de abordar a base de Fordow.”

A destruição do Fordow, por via aérea, seria praticamente inviável para Israel, conforme um relatório de março do think tank Royal United Services Institute (RUSI), com sede no Reino Unido, e demandaria poder de fogo considerável e apoio dos Estados Unidos.

Mesmo as bombas de penetração massiva GBU-57 dos EUA, que atingem superficialmente cerca de 60 metros, de acordo com o relatório do RUSI, não a alcançariam.

A GBU-57 só pode ser lançada por bombardeiros B-2 da Força Aérea dos EUA, algo que Israel não possui — mesmo que os EUA lhe fornecessem as bombas.

O relatório afirmou que o GBU-57/B provavelmente necessitava de múltiplos impactos no mesmo alvo para ter uma chance razoável de penetração.

Outros especialistas também opinam, afirmando que, caso os Estados Unidos tentassem atacar Fordow, provavelmente não teriam sucesso com uma única arma nuclear.

“Apostaria em ataques repetidos contra Fordow”, declarou o analista militar da CNN, Cedric Leighton, ex-coronel da Força Aérea dos EUA.

Albright afirma que existem outras possibilidades para neutralizar Fordow.

“Israel provavelmente poderia destruir as entradas dos túneis bem lá atrás, e certamente destruiria o sistema de ventilação”, disse ele. “Se destruíssem (os túneis) e o fornecimento de energia elétrica, levaria meses até que pudessem realmente operar.”

Apesar de sua importância no programa nuclear do Irã, Albright considera Fordow apenas mais uma peça do quebra-cabeça.

“Se você destruí-las, não será o fim da linha, porque então passaremos para a próxima ameaça, que é: quantas centrífugas o Irã fabricou que não foram instaladas em Fordow e Natanz? E onde elas estão?”, disse ele.

Considero que as pessoas superestimam a necessidade de aniquilar algo, através da destruição de estruturas, o que, de fato, provavelmente só os Estados Unidos podem realizar.

Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Lucas Almeida é o alívio cômico do jornal, transformando o cotidiano em crônicas hilárias e cheias de ironia. Com uma vasta experiência em stand-up comedy e redação humorística, ele garante boas risadas em meio às notícias.