A participação do Brasil na Copa de 1938 provocou indignação em relação à atuação dos árbitros

A seleção alcançou o terceiro lugar em sua primeira campanha de sucesso em competições mundiais.

24/07/2025 9:33

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Brasil, São Paulo, SP. 17/06/1938. Página 6 do jornal O Estado de S. Paulo com notícia sobre a partida entre as seleções do Brasil e Itália válida pela Copa do Mundo de Futebol. - Crédito:ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:179297
Brasil, São Paulo, SP. 17/06/1938. Página 6 do jornal O Estado d...

Na Copa de 1938, na França, a seleção brasileira alcançou entre os quatro melhores do torneio. As atenções se voltaram para o confronto de Marselha, no Estádio Velodrome. Brasil e Itália se enfrentaram em 16 de junho, data também marcada pelas semifinais entre Hungria e Suécia. O principal desfalque foi Leonidas da Silva. Até hoje, sua ausência é envolta em controvérsia. Uma versão aponta para um problema físico, decorrente do esforço no jogo anterior contra a Tchecoslováquia. Contudo, o jornalista Orlando Duarte, autor de “Todas as Copas do Mundo”, alega que o técnico Ademar Pimenta não utilizou o melhor jogador nacional por um “orgulho tolo”. O treinador teria reservado o “Diamante Negro” para uma possível final. Mas a equipe precisava superar a Itália primeiro.

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As grandes cidades do Brasil aguardavam o confronto com os italianos, após a superação da Tchecoslováquia: “Alegria popular em São Paulo. Em alguns pontos do Rio, o trânsito ficou congestionado. Em Belo Horizonte, o atendimento foi considerado facultativo nas unidades estaduais. Em Curitiba, o comércio permaneceu fechado. As manifestações em Recife: “Nunca fui preso com tanta emoção”, declarou o general Christovam Barcellos, conforme noticiado pela imprensa.

A Itália era treinada por Vittorio Pozzo, técnico campeão do mundo em 1934. O confronto contra os italianos ocorreu no Vélodrome, em Marselha. O árbitro Wüthrich, da Suíça, teve um papel determinante na partida. O primeiro tempo terminou sem gols. Na segunda etapa, Colaussi marcou aos 6 minutos. O lance mais polêmico da Copa aconteceu aos 15 minutos, quando Domingos da Guia deu um carrinho em Piola dentro da área brasileira. A bola estava fora de jogo, mas o árbitro indicou pênalti. O grande zagueiro brasileiro sempre afirmou que seria mais justo a sua expulsão e não a marcação do pênalti. Meazza converteu e fez 2 a 0. Romeu diminuiu para a seleção aos 42 minutos. A Itália estava novamente na decisão e tentaria o bicampeonato. Ao Brasil, restou o conforto de disputar o terceiro lugar contra a Suécia: vitória nacional por 4 a 2.

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Brasil 1 Itália – Marselha – 16.06.38

Brasil: Walter, Domingos da Guia e Machado, Zezé Procopio, Martim e Affonsinho; Lopes, Luizinho, Romeu, Perácio e Patesko. Itália: Olivieri, Andreolo, Biavati, Gino Colaussi, Ferrari, Locatelli, Meazza, Foni, Silvio Piola, Rava e Serantoni. Árbitro: Hans Wüthrich (Suíça). Gols no segundo tempo: Colaussi (6), Meazza (15) e Romeu (42).

Os dias subsequentes foram caracterizados por manifestações da mídia em oposição à arbitragem da falta. O Globo afirmava: “Realizem justiça para o Brasil. O mais inverosímil pênalti da história do futebol não pode nos eliminar da Copa do Mundo”. A comitiva brasileira chegou a considerar deixar a França sem disputar a disputa pelo terceiro lugar.

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O radialista Gagliano Neto, testemunha da partida, informava: “A piola era muito esperto, caiu no chão causando um grande problema. O juiz marcou pênalti. Incrível: a bola estava fora de campo e o jogo foi interrompido”. A imprensa divulgou a informação de que a Fifa poderia revisar o resultado do jogo. No entanto, a partida não foi anulada. “A entidade máxima do futebol não considerou a reclamação do Brasil. Sem conseguir encontrar o representante da Fifa, uma cópia do relatório do ocorrido foi entregue ao delegado sr. Maurel”. A Folha da Manhã relatou que as imagens do jogo entre Brasil e Itália poderiam ajudar a esclarecer a questão do pênalti: “O filme da partida foi disponibilizado pela sr. Generoso Ponce”.

A mídia também expressou pesar pela ausência de Leonidas da Silva, que retornaria à ativa para o confronto contra a Suécia: “Com Leonidas, tudo teria sido diferente”. Adicionalmente, foi noticiado o caso de uma jovem de 23 anos, Maria de Lourdes, moradora de Fortaleza e torcedora fervorosa, que ingeriu substância tóxica após a derrota da seleção brasileira. A reportagem apenas informava que ela se encontrava em estado crítico em um hospital. No Rio de Janeiro, uma detenta de 18 anos teve um surto de comportamento devido ao resultado do jogo e necessitou de assistência médica. A Copa do Mundo já gerava tensão entre os torcedores. Leonidas da Silva, considerado craque, foi o principal artilheiro da competição, com sete gols.

Fonte por: Jovem Pan

Autor(a):

Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.