A pandemia intensificou o envelhecimento cerebral, aponta estudo

Estudo do Reino Unido indica que a pandemia de Covid-19 causou o envelhecimento do cérebro das pessoas em aproximadamente seis meses, mesmo em indivíduo…

23/07/2025 21:55

4 min de leitura

A pandemia intensificou o envelhecimento cerebral, aponta estudo
(Imagem de reprodução da internet).

Uma pesquisa recente indicou que a experiência da pandemia de Covid-19 causou envelhecimento cerebral em indivíduos, independentemente de terem contraído ou não a doença.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O estudo complementa os dados que apontam para o impacto duradouro da pandemia na saúde mundial e no desenvolvimento cerebral.

A pesquisa demonstrou que a pandemia causou um envelhecimento cerebral de, em média, 5,5 meses. As alterações foram mais evidentes em indivíduos mais velhos, homens e pessoas com origens socioeconômicas desfavorecidas.

Leia também:

O envelhecimento cerebral está associado à função cognitiva e pode diferir da idade cronológica de um indivíduo.

A idade cerebral de um indivíduo pode ser comprometida ou acelerada por enfermidades, como diabetes, HIV e doença de Alzheimer. O envelhecimento cerebral precoce pode influenciar a memória, a função sensorial e a função emocional. Os autores sustentam que o envelhecimento cerebral observado pode ser revertível.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A pandemia exerceu pressão sobre a vida das pessoas, sobretudo sobre aquelas que já enfrentavam desvantagens. Ainda não podemos determinar se as mudanças que observamos serão revertidas, mas é possível, o que representa um otimismo.

Frank Slack, diretor do Instituto de Pesquisa do Câncer de Harvard, nos EUA, afirmou que “o trabalho é um feito notável que demonstra, em uma grande população, que a Covid-19 teve efeitos graves na saúde do cérebro, especialmente em homens e idosos”. Slack não participou do estudo.

O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

A pandemia influenciou a atividade cerebral das pessoas?

A pesquisa buscou analisar os impactos negativos da Covid-19 no envelhecimento físico e cognitivo do cérebro, empregando imagens cerebrais e avaliações cognitivas.

Pesquisadores avaliaram tomografias cerebrais de adultos saudáveis, conduzidas antes e após a pandemia.

“Isso nos proporcionou uma oportunidade singular de analisar como os acontecimentos mais significativos da vida influenciam o cérebro”, afirmou Stamatios Sotiropoulos, neurocientista da Universidade de Nottingham e coautor do estudo.

Os pesquisadores empregaram dados de tomografias cerebrais de 15.334 indivíduos saudáveis para treinar um algoritmo de aprendizado de máquina capaz de estimar com precisão a idade cerebral desses indivíduos.

Posteriormente, aplicaram o modelo para estimar a idade cerebral de 996 adultos saudáveis, tanto antes quanto após a pandemia de Covid-19.

Um grupo de indivíduos foi submetido a exames de tomografia computadorizada antes e após o início da pandemia, ao passo que outro grupo somente foi examinado por tomografia antes do surto.

Mesmo cérebro de quem não teve Covid foi afetado.

O estudo demonstrou que os cérebros dos participantes do grupo da pandemia envelheceram em média 5,5 meses mais rapidamente do que o grupo de controle, mesmo com os marcadores de saúde ajustados.

Jacobus Jansen, neurocientista da UMC de Maastricht, na Holanda, declarou que o resultado notável foi que “o envelhecimento é independente da infecção real por Covid-19”.

Apenas indivíduos infectados pela Covid-19 demonstraram redução em habilidades cognitivas, incluindo flexibilidade mental e velocidade de processamento. Isso pode indicar que o impacto do envelhecimento cerebral durante a pandemia, em pessoas sem infecção, não resultou em sintomas cognitivos evidentes.

A questão seguinte que os pesquisadores investigam é quais foram os impactos duradouros da pandemia na saúde cognitiva dos indivíduos. Diversos estudos indicaram que determinados fatores genéticos podem aumentar a vulnerabilidade de certas pessoas ao declínio cognitivo associado à Covid-19.

Em 2022, relatamos o envelhecimento precoce nos cérebros de pacientes com Covid grave. Infelizmente, todos os pacientes que analisamos faleceram devido à Covid, o que impediu o acompanhamento detalhado e a análise da arquitetura cerebral ao longo do tempo, conforme declarado por Slack.

Será interessante iniciar a análise de se os efeitos do envelhecimento observados neste estudo estão relacionados às alterações na expressão gênica que identificamos em nosso estudo, afirmou Slack.

É possível reverter o envelhecimento cerebral?

Pesquisas em neurociência indicam que há formas de diminuir o envelhecimento cerebral e diminuir os riscos de perda de cognição.

A prática física é um conhecido fator protetivo no envelhecimento cerebral, e seria valioso avaliar a contribuição das mudanças nos padrões de exercício durante a pandemia, juntamente com o estresse psicológico, dentro do modelo, afirmou Maria Mavrikaki, neurocientista da Harvard Medical School, EUA, que não participou do estudo.

Pesquisas adicionais indicam que a progressão do envelhecimento cerebral pode ser amenizada por alterações no estilo de vida, incluindo a adoção de uma alimentação saudável, a prática regular de atividades físicas e mentais, o gerenciamento do estresse e a garantia de um sono adequado, o que favorece um envelhecimento cerebral saudável.

Essas pequenas alterações podem se acumular, portanto, incluí-las na sua rotina pode auxiliar na função cerebral no futuro.

Fonte por: Carta Capital

Marcos Oliveira é um veterano na cobertura política, com mais de 15 anos de atuação em veículos renomados. Formado pela Universidade de Brasília, ele se especializou em análise política e jornalismo investigativo. Marcos é reconhecido por suas reportagens incisivas e comprometidas com a verdade.