A marcha LGBTQIA+ de Belo Horizonte abordará o direito ao envelhecimento e contará com dois dias de mobilização

Realização de evento prevista para o fim de semana; destaque é o 1º festival Fuzuê, que incluirá apresentação de Linn da Quebrada.

18/07/2025 0:44

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A marcha LGBTQIA+ de Belo Horizonte abordará o direito ao envelhecimento e contará com dois dias de mobilização
(Imagem de reprodução da internet).

A 26ª parada do orgulho LGBTQIA+ acontecerá, em Belo Horizonte, neste fim de semana. A manifestação se estende por dois dias: sábado (19) com um festival cultural no Parque Municipal e domingo (20) com a tradicional manifestação nas ruas.

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Entendida como uma das manifestações mais politizadas do país, esta edição aborda a temática “Envelhecer Bem: Direito às Políticas Públicas do Bem Viver, ao Prazer e à Cidade”. Mais do que uma celebração, o evento configura-se também como um ato político de resistência que mobiliza todo o estado, ao conectar pautas, afetos e redes de cuidado, conforme defende Maicon Chaves, presidente do Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos).

A cidade é ocupada por corpos que historicamente foram silenciados, apagados e excluídos dos espaços públicos. A Marcha comunica à sociedade que nós existimos, resistimos e reivindicamos políticas públicas. É o nosso clamor coletivo por dignidade e visibilidade, afirma o ativista, que também é secretário de relações internacionais da Associação Brasileira de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, do gênero e intersexuais (ABGLT).

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Gisele Maia, do Movimento Brasil Popular e participante da parada, concorda com essa perspectiva e complementa que a inclusão do festival Fuzuê promove a diversidade cultural e aumenta a capacidade da parada de articular e movimentar a cidade, consolidando um espaço relevante para fortalecer a rede cultural em Belo Horizonte.

As marchas no Brasil são um ato de organização que expressa o orgulho de ser LGBT e informa à sociedade que representamos uma parcela significativa da população e que não há nada de errado em nossa identidade.

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Como será implementado?

No sábado, a programação começa às 13h, no Parque Municipal Américo René Gianetti. A entrada no evento será feita através do ingresso gratuito disponibilizado pela organização na internet. Já no domingo, a concentração da manifestação é às 14h30, no cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Avenida Brasil. Os tradicionais trios elétricos seguirão o cortejo às 15h30, em direção à Praça 7.

A marcha representa uma demonstração de ocupação. Ocupar o coração da cidade, as vias principais e transitar em frente à prefeitura indica que a população LGBTQIA+ não precisa viver à margem, ela deve estar no centro.

Fuzuê

O Festival Fuzuê reunirá várias atrações de 13 a 20h, no sábado. O “aquecimento” para a Parada contará com dois palcos e a participação de artistas locais e nacionais, como as cantoras Linn da Quebrada e Ma Rodrigues. Gilbert explica que a extensão atende a uma demanda antiga de artistas LGBT por mais visibilidade e amplia o contato com o público em geral.

A realização do evento ocorre em um dia com pouco tempo, o que dificulta a apresentação de toda a arte disponível. Por isso, compreendemos que o Festival Fuzuê é uma maneira de expor a nossa arte, que é muito rica e variada. É uma oportunidade de valorizar o nosso cenário artístico, afirma Santos.

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A festa incluirá também vários shows e apresentações de bandas, blocos de carnaval, drag queens, cantores e grupos de dança, todos da cena LGBTQIA+ de Belo Horizonte e da região metropolitana.

O direito de envelhecer

Segundo o IBGE, um a cada dez brasileiros já atingiu os 65 anos, e a expectativa de vida média no país ultrapassa os 76 anos. Contudo, essa situação não se reflete de forma uniforme para todos, pois grupos minoritários enfrentam necessidades particulares e, em alguns casos, apresentam menor expectativa de vida. A ausência de dados específicos sobre a população LGBTQIA+ contribui para um apagamento e dificulta a implementação de políticas públicas voltadas para esse público.

De acordo com o relatório final da pesquisa “Envelhecimento da população LGBT: diagnóstico sobre o longeviver e o acesso aos serviços públicos municipais”, lançado em 2023, idosos que fazem parte da população LGBT frequentemente relacionam o envelhecimento com a morte ou a perda de capacidades cognitivas e de controle físico e emocional, além de sentirem-se profundamente isolados.

Esses dados contrastam com a experiência de indivíduos cisgênero ou que aderem a normas heteronormativas, que não vinculam sua vivência de envelhecimento a estereótipos negativos socialmente ligados à velhice, devido a fatores como a manutenção de seus vínculos profissionais, afetivos e com os espaços urbanos. Adicionalmente, o estudo aponta que a velhice lésbica e gay é marcada por violência e discriminação.

Considerando este contexto, o tema selecionado pela Parada aborda um debate nacional sobre a escuta das demandas da população LGBT em Minas Gerais. Segundo Michael Chaves, é necessário garantir o bem viver como um direito para todas as idades, incluindo aqueles que questionam as normas de gênero e sexualidade.

Também envelhecemos e envelhecemos com feridas sociais profundas: o abandono familiar, a falta de acesso à saúde, à moradia, à cultura. Falar de prazer, de cidade e de longevidade é romper com a lógica que nos empurra para a margem desde a juventude até a velhice.

A pesquisa “Envelhecimento e Cuidado LGBT+”, conduzida em 2024 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em parceria com o Itaú Viver Mais, revelou que, ao envelhecer, indivíduos LGBT+ que vivenciam violências, exclusões e violações de direitos internalizam marcas emocionais duradouras. Essa situação influencia sua autoestima, saúde mental e interação social, além de comprometer oportunidades de estudo e emprego, o que, ao longo da vida, dificulta o acesso à renda e a direitos trabalhistas e previdenciários.

Para Gisele Maia, o reconhecimento dessa questão dentro do movimento se mostra tão importante.

Ela argumenta que a possibilidade de hoje estar fora do armário se deve a muitos que enfrentaram obstáculos antes dela, referenciando aqueles que construíram e lutaram por isso ao longo da vida.

Resistência a ataques

A ocorrência se dá em meio a uma onda de ataques reacionários, amenizados por projetos de lei nos legislativos municipais e estaduais de todo o país, que buscam criminalizar e desfinanciar a luta LGBT. Na capital mineira, ao longo dos últimos quatro anos a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) aprovou 3 PLs que visam a retirada de direitos dessa população, todos propostos pela extrema direita.

Denuncia Maia afirma que essa articulação da extrema direita visa nos enfraquecer, eliminar e tornar invisíveis, mas que estamos presentes, vivos, resistindo, organizados e nossa luta não se encerra.

Para Chaves, tais projetos não são ingênuos ou descoordenados e, ao negar tratamentos médicos e censurar a cultura, atacam diretamente o direito à existência de pessoas da comunidade, com o claro objetivo de silenciar, invisibilizar e excluir da vida pública.

Isso interessa de forma extrema à direita, que se apoia na moral conservadora para desviar as reais urgências do país, como fome, desemprego e desigualdade. São projetos que transformam nossos corpos em alvos políticos, colocando em risco nossas vidas. Essa ofensiva conservadora é coordenada e perigosa. Esses parlamentares não estão preocupados com o bem comum, usam nossos corpos e existências como moeda política para alimentar o próprio projeto de poder. Eles querem nos apagar, mas não vamos permitir.

Estamos organizados para promover o enfrentamento e apresentar o projeto que almejamos para a sociedade: o projeto popular, que é colorido, anti-racista e feminista. Ele tem como objetivo defender a vida e a dignidade. Diferente do projeto da extrema direita, que é fascista, violento e reacionário. Nossa luta se concretiza diariamente para construir um mundo melhor, afirmou Gisele Maia.

Fonte por: Brasil de Fato

Autor(a):

Ex-jogador de futebol profissional, Pedro Santana trocou os campos pela redação. Hoje, ele escreve análises detalhadas e bastidores de esportes, com um olhar único de quem já viveu o outro lado. Seus textos envolvem os leitores e criam discussões apaixonadas entre fãs.