A incidência de diverticulite em jovens está em ascensão: compreenda como prevenir

O estilo de vida contemporâneo está associado ao perfil de pacientes com a condição.

10/07/2025 6:05

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A incidência de diverticulite em jovens está em ascensão: compreenda como prevenir
(Imagem de reprodução da internet).

A diverticulite aguda historicamente foi vista como uma condição típica em idosos, principalmente após os 60 anos, devido a um processo degenerativo natural da parede colônica. Contudo, recentes observações têm questionado essa visão.

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Observa-se um aumento constante – ainda não explosivo – no número de casos diagnosticados em adultos jovens, principalmente entre os 20 e 40 anos. Apesar da doença diverticular permanecer majoritariamente uma condição da terceira idade, o surgimento precoce levanta questões urgentes: o que está mudando no perfil de risco populacional? E, primordialmente – por que devemos nos preocupar?

Qual a importância desse assunto?

A diverticulite em jovens se apresenta clinicamente mais grave e com maior risco de complicações, incluindo perfurações, abscessos e necessidade de cirurgia precoce. Uma análise de coorte publicada no Archives of Surgery (2010) demonstrou que pacientes com menos de 50 anos apresentaram maior risco de recorrência e de internações hospitalares repetidas, desafiando a noção de que a doença em jovens é benigna e autolimitada.

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A importância dessa questão reside na transição epidemiológica em andamento. O incremento da incidência não parece ser apenas resultado de avanços nos métodos diagnósticos, mas sim de uma transformação autêntica nos fatores de risco, sobretudo os relacionados ao comportamento.

O estilo de vida contemporâneo exerce um papel significativo.

A dieta ocidentalizada, caracterizada pelo alto consumo de gorduras e pela baixa ingestão de fibras, aliada ao sedentarismo, ao estresse crônico, à obesidade abdominal e ao tabagismo, tem se tornado mais comum entre os jovens adultos. Esses hábitos afetam diretamente o microbioma intestinal e a motilidade colônica, levando à disbiose, ao aumento da pressão intraluminal e à inflamação da parede do cólon, que são os principais mecanismos envolvidos na fisiopatologia da doença diverticular.

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Uma pesquisa extensa, publicada no Gut em 2017, revelou que a combinação de baixa ingestão de fibras e alto consumo de carnes vermelhas e ultraprocessados está significativamente relacionada a um risco elevado de diverticulite em adultos com menos de 45 anos. Isso indica que a idade cronológica perde importância, sendo substituída por um “perfil inflamatório comportamental” que se estende por faixas etárias mais jovens.

Diagnóstico: entre a subvalorização e o excesso de investigação

A dor abdominal em jovens, principalmente no quadrante inferior esquerdo, geralmente é inicialmente vista com suspeita de causas orgânicas – muitas vezes associada a condições funcionais, como a síndrome do intestino irritável ou até mesmo fatores psicossomáticos. Essa abordagem pode retardar o diagnóstico de diverticulite em sua fase inicial.

Ademais, a facilidade de acesso à tomografia computadorizada nos grandes centros tem promovido a detecção de casos subclínicos ou oligossintomáticos, suscitando dúvidas acerca do verdadeiro significado clínico de certos achados radiológicos em pacientes jovens. A conduta, portanto, deve ser sempre contextualizada, evitando tanto a negligência quanto a intervenção excessiva.

Gestão e prevenção em jovens: perspectiva atual

Em situações menos complexas, o tratamento conservador com antibióticos e dieta líquida continua sendo o padrão. Entretanto, considerando a elevada taxa de reincidência observada em jovens, discute-se a indicação de cirurgia após múltiplos episódios, notadamente quando há impacto funcional relevante.

A estratégia preventiva ganha importância central: estimular uma alimentação rica em fibras, promover atividade física regular, interromper o tabagismo e diminuir o consumo de álcool e alimentos ultraprocessados são ações que vão além da prevenção da diverticulite e impactam um vasto leque de doenças crônicas.

Conclusão: um alerta para as gerações mais jovens

A diverticulite ainda é rara em jovens, porém o aumento da sua prevalência e gravidade nessa população é um reflexo da deterioração precoce da saúde intestinal associada ao estilo de vida moderno. Esse fenômeno deve servir de alerta não apenas para os clínicos, mas para políticas de saúde pública voltadas à nutrição e qualidade de vida de adultos jovens.

Desconsiderar essa tendência pode significar perder uma geração inteira à beira de um colapso gastrointestinal silencioso.

Texto redigido pelo cirurgião do aparelho digestivo Antonio Couceiro Lopes (CRM 100656 SP | RQE 26013), membro da Brazil Health

As fibras podem oferecer proteção ao intestino e à saúde cardiovascular.

Referências

Fonte por: CNN Brasil

Autor(a):

Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.