A exposição excessiva a telas pode apresentar diversos riscos para crianças e adolescentes

É frequente observar um recém-nascido absorto na tela do celular durante o almoço em família. Uma criança de cinco anos com conta em rede social. Um ado…

03/09/2025 22:03

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A exposição excessiva a telas pode apresentar diversos riscos para crianças e adolescentes
(Imagem de reprodução da internet).

É frequente observar um bebê cativado pela tela do celular durante o almoço em família. Um menino de cinco anos com conta em rede social. Um adolescente que prioriza horas de rolagem interminável nas redes sociais. O que aparenta ser inofensivo ou até “atual” esconde perigos significativos para o desenvolvimento infantil e a vida em sociedade.

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A digitalização da infância está se tornando naturalizada, sem considerar os impactos subjetivos e neurofisiológicos dessa decisão. O brincar livre, o mundo concreto e as relações presenciais estão sendo substituídos por estímulos digitais, que, na maioria das vezes, não são positivos e não equivalem aos estímulos proporcionados pela atenção e cuidado da família e da comunidade.

Impactos das telas no desenvolvimento.

A exposição precoce às telas, principalmente na primeira infância, pode afetar o desenvolvimento da visão e elevar a ocorrência de uso de óculos em idades cada vez menores. No entanto, os danos vão além disso. “A sobrecarga de estímulos visuais digitais prejudica o desenvolvimento de experiências motoras, táteis e sensoriais, essenciais para a formação de circuitos neurais integrados, responsáveis inclusive pela subjetividade e desenvolvimento emocional”, afirma Laís Mutuberria.

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A especialista destaca que, na infância, o uso excessivo de dispositivos digitais diminui o brincar livre e as interações presenciais, que são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como empatia, linguagem emocional e autorregulação.

A lógica da exploração sexual e seus perigos.

A exposição contínua de crianças nas redes sociais, frequentemente reforçada por práticas de “sharenting”, ou seja, o compartilhamento excessivo da vida dos filhos por pais e responsáveis, também acarreta consequências perigosas. “Quando impomos a lógica da performance, da estética e da hipersexualização às crianças, criamos um ambiente propício a distorções de autoimagem e sofrimento psíquico”, afirma a psicóloga.

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Na adolescência, a questão se intensifica. A procura por aprovação e reconhecimento online pode levar à dependência, influenciar a identidade, a autoimagem e elevar a suscetibilidade a transtornos como ansiedade e depressão. Em situações extremas, a divulgação de imagens infantis pode resultar em casos de abuso e traumas complexos.

Laços frágeis e dopamina em excesso

Do ponto de vista psicossocial, Laís Mutuberria ressalta outro fenômeno preocupante: a perda da elaboração simbólica e a fragilidade dos vínculos. “A hiperconectividade promove relações superficiais, fundamentadas na lógica do imediatismo e da recompensa fácil. Crianças e adolescentes estão perdendo a capacidade de manter a atenção, planejar, memorizar e refletir criticamente”, adverte.

A psicóloga afirma que o uso contínuo de redes sociais e jogos digitais estimula os circuitos dopaminérgicos do cérebro, os mesmos que estão presentes em quadros de dependência química. Isso pode levar a um ciclo que culmina na perda de controle, apatia, irritabilidade, queda no desempenho escolar e distúrbios do sono.

Adultos também necessitam revisar seus hábitos.

O progresso tecnológico proporcionou vantagens evidentes, porém o desafio reside no uso consciente, e isso também se aplica aos adultos. “O risco é que essas transformações ocorram em pequenas doses. Um celular entregue para ‘acalmar’ a criança pode parecer um gesto inofensivo, mas, ao se repetir, transforma hábitos e modos de vida”, afirma Laís Mutuberria.

Ela sugere uma reflexão: “Você já pensou no que compartilha sobre seus filhos nas redes? Seu uso de telas está alinhado com os valores que deseja ensinar? A infância dos seus filhos está sendo protegida ou exposta?”

Restabelecer é urgente.

Para a especialista, é fundamental resgatar valores simples: tempo de qualidade em família, convivência autêntica, afeto e respeito ao tempo de cada fase da vida. “Infância não é lugar de produtividade nem de adultização. É um tempo que precisa ser vivido com liberdade, proteção e presença”, conclui.

Por Annete Morhy

Fonte por: Carta Capital

Fluente em quatro idiomas e com experiência em coberturas internacionais, Ricardo Tavares explora o impacto global dos principais acontecimentos. Ele já reportou diretamente de zonas de conflito e acompanha as relações diplomáticas de perto.