A resolução para impedir que o impacto das crises econômicas seja sentido desproporcionalmente pelos mais vulneráveis envolve a tributação de grandes pa…
Com o governo Trump anunciando mais um pacote de tarifas abusivas sobre produtos importados, que afetam diretamente trabalhadores e trabalhadoras que dependem desses itens no cotidiano, a elite econômica global permanece imune, acumulando riquezas em paraísos fiscais. A denominada “tarifatória” não é apenas mais uma manobra protecionista do imperialismo norte-americano; é um ataque aos países periféricos, que serão obrigados a suportar os custos dessa guerra comercial. Contudo, a questão que se coloca é: por que os bilionários nunca são convocados a pagar a conta?
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A política de tarifas de Trump expõe a desigualdade intrínseca ao sistema capitalista. Por um lado, os trabalhadores observam o aumento dos preços de alimentos, eletrônicos e insumos básicos, enquanto seus salários permanecem estagnados. Por outro, os bilionários – aqueles que mais se beneficiam da globalização e da exploração do trabalho – continuam sem contribuir proporcionalmente com os cofres públicos. Nesse contexto, no Brasil, o Congresso Nacional insiste em um projeto econômico que reduz direitos, congela investimentos sociais e mantém privilégios para uma minoria que sempre extraiu grande parte dos recursos do Estado.
A solução para impedir que o impacto das crises econômicas recaia consistentemente sobre os mais vulneráveis reside na tributação das grandes fortunas. De acordo com dados da Oxfam, os 1% mais ricos do mundo detêm quase o dobro da riqueza de 6,9 bilhões de pessoas. No Brasil, seis bilionários possuem a mesma riqueza que 100 milhões de pessoas mais pobres! Esses números não são apenas alarmantes – representam um escândalo moral.
É inaceitável que um trabalhador pague quase 30% de impostos sobre seu salário mínimo, enquanto grandes herdeiros e magnatas pagam menos de 5% sobre seus lucros e dividendos.
A alegação de que tributar os ricos causará o êxodo de investimentos é infundada. Os paraísos fiscais se configuram devido à resistência da elite financeira em pagar impostos em qualquer localidade. A realidade é que o capitalismo globalizado possibilita que bilionários acumulem riqueza em detrimento da precarização do trabalho e da evasão fiscal. Paralelamente, os serviços públicos – saúde, educação, transporte – se deterioram por insuficiência de recursos.
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Ao analisarmos a questão de quem arca com os custos das crises, é imprescindível considerar o racismo estrutural presente no sistema tributário brasileiro. A elevada carga tributária afeta severamente a população negra, em particular mulheres e crianças, que são as mais vulneráveis à ausência de investimentos em políticas públicas. Simultaneamente, indivíduos de alta renda evadem e exploram brechas fiscais, enquanto famílias de áreas periféricas destinam até 30% de sua renda para o consumo básico, mesmo conseguindo prover alimentação.
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), por exemplo, incide pesadamente sobre itens essenciais como energia elétrica, gás de cozinha e alimentos, prejudicando quem já vive na linha da pobreza. Não por acaso, são as mulheres negras as que mais sofrem com a falta de creches, com o transporte caro e com a saúde pública sucateada – serviços que deveriam ser garantidos justamente pela tributação progressiva. Paralelamente, os bilionários, em sua maioria brancos, continuam acumulando patrimônio sem contribuir de forma justa.
Cobrar impostos dos ricos não é só uma questão econômica, é uma reparação histórica. Enquanto o governo exige até o último centavo da faxineira que trabalha com três ônibus por dia, os herdeiros de fortunas escravocráticas ainda desfrutam de isenções e paraísos fiscais. É necessário combater esse racismo tributário que perpetua a lógica colonial: os corpos negros sustentando o luxo de alguns.
É necessário um sistema tributário equânime, que obrigue os indivíduos mais ricos a arcarem com a crise que contribuíram para gerar. O “tarifatório” de Trump é apenas mais um caso que demonstra como as políticas econômicas são moldadas para defender os interesses dos mais poderosos. Basta de permitir que os trabalhadores sustentem os custos. É preciso tributar os bilionários e realocar a riqueza.
A busca por justiça fiscal não é meramente econômica — é uma luta por dignidade.
Thais Ferreira é vereadora e líder de bancada do PSOL/RJ, ativista em defesa dos direitos da população negra, das mulheres, das crianças e da classe trabalhadora. Dignidade para todos!
Este é um artigo de opinião e não necessariamente reflete a linha editorial do Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato
Autor(a):
Apaixonada por cinema, música e literatura, Júlia Mendes é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de São Paulo. Com uma década de experiência, ela já entrevistou artistas de renome e cobriu grandes festivais internacionais. Quando não está escrevendo, Júlia é vista em mostras de cinema ou explorando novas bandas independentes.