Em território brasileiro, mais de um terço da população enfrenta dor crônica. Contudo, o assunto é pouco abordado no ambiente profissional, apesar de ser uma das principais causas de queda na produtividade e afastamentos, conforme a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Profissionais da área apontam que essa omissão acarreta prejuízos significativos, impactando a saúde física e emocional dos trabalhadores, intensificando os quadros clínicos e elevando o risco de absenteísmo prolongado.
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A dor crônica transcende a sensação física, modificando o sono, influenciando o humor, prejudicando o foco e minando a autoestima, conforme afirma o neurologista Marco Nihi, especialista em tratamento da dor. “No ambiente profissional, isso se manifesta por queda de desempenho, afastamentos frequentes e sofrimento emocional que frequentemente não é identificado.”
Doenças crônicas, gastos excessivos
Doenças musculoesqueléticas, incluindo lombalgia, hérnia de disco, artrose e fibromialgia, representam as principais causas de afastamento temporário por incapacidade no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também considera a dor crônica como um dos maiores desafios de saúde pública em escala global.
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Uma pesquisa da SBED em colaboração com o IBOPE indicou que mais de cinquenta por cento dos brasileiros que apresentam dor crônica têm a rotina profissional impactada. Aproximadamente 46% relataram já ter faltado ao trabalho devido à dor. Adicionalmente, 31% mencionaram uma redução no desempenho profissional.
O medo do julgamento ainda dificulta que muitos trabalhadores procurem assistência. É frequente que o indivíduo tente suportar a dor para não demonstrar vulnerabilidade, o que agrava a situação. Isso resulta no uso excessivo de analgésicos, maior risco de afastamento e até associação com quadros de depressão e ansiedade.
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Diagnóstico precoce e tratamento integrado.
O tratamento da dor crônica existe, porém necessita de avaliação especializada. Abordagens como bloqueios analgésicos, neuromodulação, fisioterapia e terapias cognitivas podem auxiliar no controle do problema e na melhora da qualidade de vida. “O primeiro passo é identificar a causa da dor e construir um plano integrado, com apoio multidisciplinar e mudanças no estilo de vida”, declara Nihi.
Além do acompanhamento médico, o neurologista defende a ampliação da conscientização nas empresas. Ele acredita que organizações que abordam e tratam o tema com seriedade conseguem diminuir taxas de absenteísmo, promover o bem-estar e aprimorar o desempenho das equipes.
A cultura organizacional ainda não considera o sofrimento.
No ambiente de trabalho, a dor crônica frequentemente não é reconhecida como uma condição clínica válida. Devido à ausência de uma cultura de escuta e apoio, muitos trabalhadores sofrem em silêncio. “A empresa precisa considerar a dor crônica como um fator real de impacto na produtividade, e não como fragilidade ou falta de compromisso”, afirma Nihi.
A falta de diálogo sobre o tema também distancia os profissionais do cuidado preventivo. Para especialistas, é necessário romper com o tabu e incorporar a dor crônica nas pautas de saúde corporativa. Investir em educação, acompanhamento e adaptação do ambiente pode ser determinante para preservar o bem-estar da equipe e a sustentabilidade do negócio.
Fonte por: Carta Capital